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A ascensão do Crystal Palace sob o comando de Glasner: decisões implacáveis definirão o que virá a seguir

Quando Glasner chegou em fevereiro de 2024, poucos esperavam uma transformação imediata. No entanto, em poucos meses, o austríaco levou o Crystal Palace ao seu primeiro grande título: a FA Cup, encerrando décadas de frustrações e da monotonia de meio de tabela. O seu impacto foi além dos resultados; o Palace passou a jogar com uma identidade ousada, ofensiva e proativa — um modelo para clubes fora do chamado “Big Six”.

Para os torcedores de longa data, a estabilidade no meio da tabela já foi considerada um luxo. Hoje, ela parece apenas uma pausa. O clube está seguro, ambicioso e capaz de enfrentar qualquer adversário na Inglaterra. O que eles desejam agora é progresso — não apenas sobreviver entre os grandes, mas realmente pertencer a esse grupo.

Números que contam uma história

Segundo os dados da Opta, o Palace gerou um total de 16,1 gols esperados sem pênaltis (npxG) nesta temporada — mais do que qualquer outra equipe da Premier League, inclusive o Manchester City. Ainda assim, o time marcou mais de seis gols a menos do que o esperado, o que sugere que a criatividade da equipe não está sendo correspondida pela precisão nas finalizações.

Para entender melhor a variação nas finalizações do Crystal Palace nesta temporada, veja os números de cada jogador-chave em Gols versus Gols Esperados (xG) — mostrando quantos gols eles marcaram em comparação com o que suas chances sugeririam:

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  • Jean-Philippe Mateta: –2,89
  • Yéremy Pino: –1,14
  • Daichi Kamada: –0,39
  • Chris Richards: –0,37
  • Maxence Lacroix: –0,35
  • Ismaila Sarr: –0,25
  • Adam Wharton: –0,23
  • Will Hughes: –0,16
  • Daniel Muñoz: +0,13
  • Marc Guehi: +0,14
  • Tyrick Mitchell: +0,59

Os números falam por si. A maioria dos atacantes do Palace está com desempenho abaixo do esperado, com Jean-Philippe Mateta se destacando como o principal caso — quase três gols abaixo da expectativa. Apenas Tyrick Mitchell, Marc Guehi e Daniel Muñoz superaram suas métricas de finalização, e todos são defensores, não atacantes.

Esse desequilíbrio evidencia um problema claro: a linha defensiva do Palace está finalizando com mais eficácia do que os atacantes — um padrão insustentável para qualquer equipe que aspire a disputar competições europeias.

Um dilema orientado por dados

A trajetória de Mateta representa bem essa tensão. O atacante francês marcou cinco gols na liga nesta temporada, mas três deles vieram num eletrizante empate por 3 a 3 contra o Bournemouth. No restante da campanha, sua taxa de conversão ficou em torno de um gol a cada dez oportunidades — a pior entre os jogadores do Palace que marcaram, apesar de ser o atacante mais servido da equipe.

O sistema de Glasner incentiva a criação massiva de chances — sufocar o adversário até que os gols inevitavelmente apareçam. A lógica faz sentido. Mas na Premier League, desperdício tem consequências. Contra adversários mais fortes, a linha entre dominar e ser derrotado pode ser tão tênue quanto uma finalização mal executada.

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Como aponta a FourFourTwo, o departamento de recrutamento do Palace poderá em breve enfrentar uma decisão crucial: continuar apostando em Mateta ou trazer uma concorrência de peso. Esse tipo de escolha é o que separa um time divertido de meio de tabela de um verdadeiro candidato a vagas europeias.

Lições do passado

O Palace já provou que é capaz de tomar decisões difíceis, até impopulares. Deixar Wilfried Zaha partir foi doloroso, mas pragmático. Vender Michael Olise e Eberechi Eze mostrou-se um bom negócio — fruto de um modelo de recrutamento que tem funcionado excepcionalmente bem para um clube do porte do Palace.

Manter o capitão Marc Guehi, no entanto, talvez tenha sido uma decisão mais emocional do que racional — motivada pela lealdade mais do que pela lógica. A próxima fase da evolução do Palace exigirá algo diferente: distanciamento estratégico. Reforçar o elenco de forma proativa, em vez de apenas substituir talentos que saem, pode ser o que definirá se a equipe de Glasner continuará subindo ou estagnará como “impressionante, mas incompleta”.

O próximo teste

Enquanto o Palace se prepara para enfrentar o Brentford — ambos empatados em pontos no meio da tabela —, o sentimento de potencial em torno de Selhurst Park é palpável. O futebol é empolgante, o ambiente é vibrante e a trajetória é claramente ascendente.

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Mas se a equipe de Glasner quiser realmente romper o teto de vidro da Premier League, precisará transformar a admiração que desperta em conquistas concretas — e isso pode significar deixar de lado o sentimentalismo em nome do progresso.

Fontes: FourFourTwo, Opta

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