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As novas regras de gastos da Premier League aprofundam o debate sobre o equilíbrio competitivo

A Premier League aprovou a reescrita mais abrangente do seu regulamento financeiro em mais de uma década uma decisão que já aprofundou o fosso entre os clubes que acreditam que as reformas trarão estabilidade às finanças da liga a longo prazo e aqueles que receiam que estas venham a consolidar as hierarquias já existentes.

A reformulação foi aprovada no mês passado por 14 votos contra 6, segundo a Reuters e a BBC. Embora a maioria dos clubes concordasse que o sistema anterior estava obsoleto, o caminho a seguir esteve longe de ser consensual.

Pressão sobre o sistema anterior

Os anteriores Regulamentos de Lucro e Sustentabilidade (PSR) limitavam as perdas a três anos em 105 milhões de libras um teto que se tornou cada vez mais insustentável à medida que os custos com transferências e salários cresciam mais rapidamente do que as receitas. O jornal The Guardian destaca que as violações cometidas por Everton e Nottingham Forest ambos penalizados com perda de pontos demonstraram como as regras deixaram de ser mecanismos de estabilização para se tornarem pontos de tensão.

Alguns dirigentes de clubes de meio da tabela disseram à imprensa britânica que o PSR limitava mais a progressão desportiva do que o gasto irresponsável. Newcastle United e Aston Villa, apesar de terem proprietários financeiramente poderosos, viram-se travados por estes limites antes de conseguirem executar os seus planos a longo prazo.

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Como funciona o novo enquadramento

A partir da época 2026/27, o PSR será substituído por dois novos componentes: o rácio de custos com o plantel (SCR) e o teste de sustentabilidade e resiliência sistémica (SSR).

O SCR incorpora elementos das regras da UEFA, mas permite um pouco mais de margem aos clubes ingleses. De acordo com as diretrizes da Premier League, resumidas pela Associated Press, os gastos com salários da equipa principal, treinadores, agentes e amortizações serão comparados com as “receitas ajustadas” ou seja, receitas de bilheteira, comerciais, de transmissão e lucros com vendas de jogadores.

Espera-se que os clubes operem com um limite de 85 % das receitas, podendo atingir até 115 % mediante o pagamento de uma taxa. Ultrapassar este limite poderá resultar em sanções desportivas. Simultaneamente, os clubes que participam em competições da UEFA terão de cumprir limites europeus mais restritivos, dado o seu maior potencial de receitas.

O SSR, aprovado por unanimidade, introduz controlos de liquidez e solvência destinados a evitar crises financeiras súbitas. Analistas destacam que estas salvaguardas refletem lições aprendidas com falências de clubes ingleses no final dos anos 2000.

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Resistência inicial e pontos de fricção

A oposição ao SCR partiu de Bournemouth, Brighton, Brentford, Crystal Palace, Fulham e Leeds United. Dados financeiros analisados pelo The Guardian indicam que vários destes clubes já operam perto do limite máximo de eficiência financeira, o que os leva a recear que este novo quadro possa restringir futuros investimentos no plantel, em vez de nivelar o campo competitivo.

Chelsea e Aston Villa também poderão sentir pressão logo de início. Ambos foram multados pela UEFA no ano passado por violação das regras de gastos europeias em parte devido à recusa do organismo em considerar receitas provenientes da venda de hotéis ou de equipas afiliadas. Essa restrição passará agora a aplicar-se também na Premier League.

O Newcastle United enfrenta um desafio distinto: as suas receitas continuam significativamente abaixo das dos gigantes comerciais da liga. Mesmo com os ganhos provenientes da Liga dos Campeões, a sua capacidade de investimento mantém-se bem atrás de clubes como Manchester City, Manchester United, Liverpool e Arsenal.

Um fosso financeiro cada vez maior?

Dados compilados pela Swiss Ramble mostram que o Manchester United dispõe atualmente do maior orçamento para o SCR na liga, seguido por Manchester City, Liverpool e Arsenal. O Newcastle encontra-se a meio da tabela, com o Aston Villa logo atrás.

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Diversos dirigentes e analistas financeiros disseram à imprensa britânica que este panorama dificilmente mudará num futuro próximo.

O consenso atual é que as reformas poderão incentivar os clubes a explorar novas fontes de receitas comerciais e de bilheteira, mas é pouco provável que reduzam significativamente o fosso financeiro entre a elite da liga e os restantes.

A grande questão se esta nova estrutura irá realmente promover estabilidade ou simplesmente formalizar desigualdades só deverá ter resposta dentro de algumas épocas. Até lá, a frustração e a incerteza continuarão a fazer parte da realidade financeira da Premier League, mesmo com o regulamento agora reescrito.

Fontes: Reuters, BBC, AP, The Guardian.

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