Desporto

Empresa de investimento aposta 350 milhões de dólares em equipas desportivas mais pequenas

Durante anos, o capital de private equity no desporto concentrou se sobretudo em grandes nomes, equipas da NBA, clubes de futebol de elite e competições automobilísticas globais. Equipas e ligas mais pequenas, especialmente fora dos Estados Unidos, ficaram à margem deste boom de investimento.

Uma empresa localizada na região de Lisboa acredita que este desequilíbrio representa agora uma oportunidade decisiva.

A APEX, uma empresa de investimento especializada em desporto fundada por António Caçorino, prepara se para lançar um novo fundo com um objetivo de 300 milhões de euros, cerca de 350 milhões de dólares, para investir em equipas, ligas e ativos ligados ao desporto que os grandes fundos têm ignorado, segundo a Forbes.

Em vez de competir por franquias mundialmente conhecidas, a empresa pretende focar se em participações minoritárias em organizações desportivas pequenas e médias, sobretudo na Europa, onde estruturas de propriedade, regulamentação e escala limitada têm historicamente afastado o capital institucional.

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Para leitores fora do mundo do desporto, isto reflete uma tendência mais ampla, o desporto profissional está cada vez mais a ser tratado como uma classe de ativos, semelhante aos media ou às infraestruturas, e não apenas como uma instituição cultural.

Construída com a ideia de que os atletas devem ser investidores

Segundo o próprio site da APEX, a empresa foi fundada com uma convicção simples, à medida que o desporto emergia como uma classe de ativos séria, os atletas profissionais deveriam ter um lugar à mesa dos investidores.

A plataforma foi concebida para reunir atletas de topo com especialistas financeiros e da indústria, permitindo que os atletas tragam não apenas capital, mas também conhecimento, credibilidade e redes de contacto.

Em 2020, a APEX testou duas hipóteses, se os atletas aceitariam o papel de investidores ativos e se o mercado estaria disposto a acolhê los. De acordo com a empresa, a resposta foi claramente positiva em ambos os casos.

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No primeiro ano, mais de 60 atletas profissionais juntaram se à plataforma e a APEX construiu um portefólio de 12 empresas, incluindo o seu investimento emblemático na TGL, a liga de golfe orientada pela tecnologia fundada por Tiger Woods e Rory McIlroy.

Atualmente, a APEX gere estratégias nas áreas de venture capital, growth e private equity, apoiando desde startups em fase inicial até propriedades desportivas estabelecidas, segundo a empresa.

De investimentos cautelosos a maior influência

Nos seus primeiros investimentos de private equity, a APEX assumiu participações minoritárias modestas, incluindo no equipa de Fórmula 1 Alpine e no clube de futebol italiano Venezia FC. Esses negócios proporcionaram exposição a ativos desportivos de grande visibilidade, mas com influência limitada.

Segundo a Forbes, Caçorino reconheceu mais tarde que o valor operacional acrescentado pela empresa muitas vezes excedia o nível de participação detido.

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“Sentimos que, com o valor adicional que trouxemos, deveríamos ter um pouco mais de propriedade e de governação”, afirmou Caçorino.

Na altura, a APEX geria cerca de 60 milhões de dólares, grande parte através de um fundo de venture capital focado em tecnologia desportiva. Essa dimensão limitava naturalmente a amplitude dos investimentos.

O novo fundo representa uma mudança estratégica deliberada em direção a participações maiores e a um envolvimento mais profundo.

Um fundo de 350 milhões de dólares com um foco diferente

A APEX planeia anunciar o lançamento de um fundo de private equity de alto crescimento com um objetivo de 300 milhões de euros, cerca de 350 milhões de dólares, segundo a Forbes. O capital será utilizado para adquirir participações minoritárias entre 20% e 49% em equipas, ligas e outros ativos relacionados com o desporto.

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Caçorino espera que o fundo realize entre 10 e 20 investimentos ao longo de um período de dez anos, com valores individuais entre 15 e 50 milhões de dólares. Segundo disse à Forbes, os compromissos dos investidores já estão assegurados e o capital está pronto para ser investido.

Fora do setor desportivo, esta abordagem assemelha se aos modelos tradicionais de private equity, adquirir participações relevantes, melhorar a governação e o desempenho comercial e, posteriormente, vender a investidores de maior dimensão.

Porque as equipas europeias mais pequenas despertam interesse

O desporto europeu difere significativamente do modelo norte americano. Muitos clubes operam em sistemas de promoção e despromoção, mercados de direitos mediáticos fragmentados e estruturas de propriedade complexas. Estes fatores têm historicamente afastado grandes investidores.

Caçorino defende que essas mesmas complexidades reduzem a concorrência e pressionam as avaliações para baixo.

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Segundo a Forbes, a APEX concentra se em ativos avaliados entre 60 e 600 milhões de dólares, que, na perspetiva da empresa, enfrentam menos obstáculos regulatórios e oferecem caminhos de crescimento mais claros.

A empresa também destaca a sua rede de atletas investidores. De acordo com a APEX, estas relações podem ajudar as empresas do portefólio a atrair patrocinadores, adotar novas tecnologias e expandir se internacionalmente.

Os riscos por trás do potencial de retorno

Nem todos acreditam que a estratégia seja simples de executar.

Andy Appleby, fundador da General Sports Worldwide, afirmou à Forbes que aumentar as receitas de clubes mais pequenos normalmente exige decisões difíceis, aumentar preços dos bilhetes, garantir novos patrocinadores ou desenvolver atletas para venda.

“Não há nada simples nisto”, afirmou Appleby.

Apesar destes desafios, Caçorino aponta para retornos anuais superiores a 20%. Em comparação, os retornos médios de longo prazo do private equity situam se em torno de 14%, segundo dados da Cambridge Associates citados pela Forbes.

Uma ponte entre proprietários locais e capital global

A longo prazo, a APEX pretende preparar as suas participações para venda a investidores financeiros muito maiores que estão a entrar no desporto em força.

Segundo a Forbes, empresas como a Apollo Global Management, a Ares Management e a CVC Capital Partners comprometeram milhares de milhões de dólares em investimentos desportivos nos últimos anos.

“Ainda existe uma grande disparidade entre quem potencialmente quer vender e os grandes investidores”, disse Caçorino à Forbes. “Isso coloca nos numa posição muito atrativa”.

Ao posicionar se entre proprietários locais e capital institucional global, a APEX aposta que equipas e ligas até agora negligenciadas se tornarão a próxima fronteira da economia do desporto.

Para Caçorino, o momento é decisivo.

“O momento é agora”, afirmou, segundo a Forbes.


Fontes, Forbes, APEX Capital Partners, Cambridge Associates